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Casa da Ju

Um blog sobre DIY, Costura, Livros, Filmes e mim…

Casa da Ju

Um blog sobre DIY, Costura, Livros, Filmes e mim…

Compra de presentes na Lanidor Kids. Fui escolhendo, vendo e a vendedora pergunta se não quero levar nada para os meus. Conversa puxa conversa, lá vem o tema dos gémeos. A sério? Parabéns! Mas uma gravidez de gémeos, que complicação... patati, patatá... e eu lá caio na esparrela e explico que nós adoptámos.

Mas porquê? Porquê me deixo ir na conversa?

Depois lá vem o renhonhó do costume. Que fantástico! Mãe é quem cria, blabla e o diabo a sete.

A sério, eu entendo. Estão a tentar ser simpáticos. Mas será que eu pedi a validação, concordância, opinião de alguém? Quando alguém me diz que tem filhos eu lá dou a minha opinião sobre essa decisão? A sério? Teve coragem? Filhos, neste mundo, da forma como as coisas estão?

Adoptar é ter filhos. E as pessoas têm filhos porque querem. Não porque são muito altruístas e estão cheias de vontade de fazer bem a uma criança coitadinha que já sofreu mais do que devia. Esse é um colateral muito positivo. Mas não é a primeira razão certamente. 

Ontem fizemos dois anos de casados e não nos lembrámos disso. Ontem fez 1 ano que dissemos à Segurança Social que aqueles meninos que não conhecíamos, que nunca tinhamos visto (nem em foto) íam ser os nossos filhos. Dessa data lembrámo-nos bem.
Não festejámos porque por estes lados o trabalho abunda e muito, e não tem havido tempo para nada. Nos últimos 3 dias dormi umas 12 horas no total e saltei umas quantas refeições e isso não se coaduna com celebrações.

Fizemos anos de casados, e apenas porque me lembrei da nossa conversa com a Segurança Social no ano passado e ando a trabalhar demasiado, quiz comprar 1 prenda ao marido. Para lhe dizer que não tenho andado muito perto dele mas que sei que esta minha dedicação ao trabalho só tem sido possível porque o tenho a ele para me ajudar a segurar as pontas, para me ajudar, para ele estar com eles e eu poder estar sossegada que sei que estão bem entregues.
Para lhe dizer que o quero muito e que o quero ainda mais porque ele me deixa fazer 1 coisa que me tem dado muito gozo. Para lhe dizer que tenho saudades dele, que sinto a falta dele, embora me deite (pelo menos 1 bocadinho) todas as noites na mesma cama que ele. Para lhe dizer que o pai que ele é só me faz quere-lo cada vez mais.

Lembrámo-nos da volta que a nossa vida levou desde o ano passado. A boa volta que levou. A forma como tivémos sorte e como fomos abençoados com os míudos mais espectaculares deste planeta (e dos outros também parece-me :)). Como é que podíamos viver sem eles antes? Como?

E agora só espero conseguir disciplinar-me 1 bocadinho mais para conseguir ter mais tempo para eles. Tenho que dizer que não às vezes lá no trabalho... e arranjar 1 equipa mais forte... mas como?


Ontem chegva eu das compras e tentava estacionar o carro enquanto os G's andavam a saricotar à volta do carro e me dificulatavam o estacionamento... demorei uns bons 10 min a tentar estacionar... Saí furiosa do carro!

Expliquei-lhes imediatamente que não podem andar à volta do carro. Que é perigoso. E o resto do discurso todo sobre os carros e os perigos e a estrada e tudo o mais. Entrei em casa e comecei a reclamar com o pai deles que não me ajudou afastando-os do carro. Estava mesmo zangada.

Entra o Gui e diz: "Estás zangada e um dia vais trocar de menino...".

...

É bom saber que ele consegue verbalizar o que sente. É bom conseguir saber o que vai naquelas cabecinhas. É bom conseguir endereçar os medos e receios deles. Havemos de tirar aqueles fantasmas da cabeça deles, não?

Porque me dói pensar que têm medo. Porque não quero que duvidem. Porque não faz sentido que duvidem. NUNCA.

Esta foi a pergunta que o Jorge (que costuma estar aqui: http://oqueeojantar.blogs.sapo.pt/) de forma indirecta me colocou…

Temos. Todos temos medo. Ter medo é normal… É isso que nos faz ser cautelosos. É isso que nos faz reflectir nas coisas. É isso que nos faz sentir falíveis. E é esse sentimento de falibilidade que nos faz ser também solidários. Faz-nos humanos. Com falhas. Imperfeitos. Com consciência dos nossos limites.

Só que às vezes o medo também nos paralisa. Nos impede de agir. E este é que é o problema, não é?

E tudo isto a propósito de uma enorme discussão (e digo discussão no sentido positivo da palavra, de troca livre de ideias) que surgiu no nós adoptamos sobre o facto dos candidatos a adopção estarem dependentes da avaliação de uma equipa de técnicos da SS. É que desta avaliação depende a sua selecção mais rápida (ou não) para a atribuição de uma criança. E esta avaliação é muitas vezes absolutamente discricionária. As técnicas da SS escolhem os candidatos com que “engraçam” mais. O objectivo é encontrar sempre os melhores pais possíveis para as necessidades específicas de cada criança, o que leva a que a “fila de espera” dos candidatos não seja cumprida. Aliás, essa “fila de espera” só por si já é 1 absurdo porque não é 1 “fila de espera” nacional. É distrital. Na prática cada distrito tem os seus candidatos e as suas crianças. Se não existem candidatos para 1 criança num distrito as técnicas da SS, se forem de facto preocupadas com as crianças, se estiverem para aí viradas, se forem competentes, se tiverem tempo, e mais não sei quantos ses… então nesse caso procuram candidatos noutro distrito.
Os candidatos como têm noção de que a rapidez da sua selecção (sim, a rapidez… porque é muito fácil para a SS simplesmente não recusar ninguém e manter os candidatos eternamente no fundo da lista) depende das técnicas da SS, optam por não reclamar junto delas, por não as confrontar quando têm muitas vezes de facto razão para o fazer.

O medo, e a sua enorme vontade de ser pais, impede-os de agir. E isto é grave. Grave haver um tal poder nas mãos de pessoas, muitas delas que não têm formação, perfil e carácter para tanto. E isto é humano. Humano ter medo do poder que estas pessoas têm nas mãos.

Se devemos ter medo de reclamar? Não, não podemos. Não, não devemos. E penso que cada vez mais temos menos medo e reclamamos mais. Cada vez temos mais consciência de quem paga o ordenado aos Srs mal educados que nos atendem nas finanças somos nós. Cada vez temos mais noção de que podemos e devemos reclamar na SS quando as coisas não correm bem. Devemos perguntar na SS porque é que o prazo de 6 meses para avaliação de candidatos não está a ser cumprido. Devemos interrogar sempre que nos dão 1 informação incorrecta (e isso acontece muito). No entanto, penso que não devemos confundir interrogar, reclamar de forma construtiva quando de facto temos razões objectivas e concretas para o fazer, com confrontar os serviços por tudo e por nada, ter 1 postura arrogante e prepotente e reclamar por tudo e por nada, de forma não construtiva.
E penso isto relativamente aos processos de adopção e a tudo o resto na vida. Em geral zangarmo-nos não nos leva a lado nenhum (penso eu… a não ser talvez tornarmo-nos mais amargos e cinzentos)… mas é claro que às vezes acontece. Reclamamos sem ter razão e deixamos passar oportunidades legítimas para o fazer.
Dizia o Jorge que somos medrosos e que porque o somos as coisas dificilmente funcionarão bem. Que temos o país que merecemos.

Posso concordar com esta última frase mas não pelas razões que o Jorge aponta. Enquanto formos 1 país de chico espertos, do pequeno expediente, enquanto acharmos esperto o nosso vizinho que foge de forma declarada aos impostos, enquanto assim formos… então sim, temos o país que merecemos. Não tanto pelo medo… mas pela nossa Chico Espertice.

E será que deixámos passar oportunidades para reclamar no nosso processo de adopção? Sinceramente não sei… mas noutro dia vos contarei tudo. O que correu bem (e correu praticamente tudo muito bem), o que podia ter corrido melhor e as razões pelas quais pensamos que correu bem.
Pois é... tenho andada desaparecida deste cantinho, mas desde aqueles diazinhos em Amsterdão que não tenho tido tempo para nada, mesmo nada... trabalho, trabalho e mais trabalho...

Amsterdão foi bom, foi muito bom (apesar da sinusite aguda que de lá trouxe, e que verdade seja dita, também já levava) mas nada calminho como a foto que coloquei no post anterior... Foi o aniversário da raínha, não demos por nenhum acidente/atentado, apenas demos por 1 cidade em que toda a gente decidiu vir para a rua beber, cantar, dançar, vender os tarecos velhos que tinha em casa ou outra coisa qualquer (desde a velhota simpática a vender bolo de maçã ao lado de um rapagão a vender a colecção de dvds porno que tinha lá em casa). Foi bom e apesar de toda a agitação deu para descansar 1 bocadinho e rever o F. e a C. que já não víamos há algum tempo e nos levaram a 1 restaurante holandês bem simpático (coisa que eu sempre duvidei que existisse...).

Também foi bom chegar a PT e ir buscar os G's que ficaram eufóricos de nos ver... sim, saudades, muitas saudades que tinhamos... e foi bom saber pela reacção deles que eles também tiveram saudades nossas (apesar de toda a diversão, dos carrosseis e das vontadinhas todas feitas daqueles dias...).

Muito bom também foi ter chegado a Lx e ter em casa a sentença do tribunal... ou seja: JÁ ESTÁ!!!... É oficial, formal... o que quiserem... são os nossos filhos! Nós já sabíamos! Eles também! Agora o estado português tb já sabe e em breve eles vão ter documentos que o comprovam!



Ainda o tema da adopção... e a respeito de uma mensagem que recebi que me fez ficar a pensar (enquanto devoro umas bolinhas de chocolate com avelãs :)...) no respeito que temos que ter pelas opiniões de todos os outros...

Eu respeito as opiniões de todos. Acho que se alguém quer adoptar 1 criança e essa criança tem que ser 1 bebé recém-nascido tudo bem. Acho que se alguém não quer adoptar 1 criança de cor tudo bem. Acho que as pessoas indicam as características/requisitos (expressão horrorosa e que não devia utilizar...) que querem e pronto.

Agora o que também acho é que temos que chamar as coisas pelos nomes... E se alguém não adopta 1 criança de cor... isso é discriminação, certo? Racismo, certo?... As pessoas coloquem os requisitos que quiserem mas vivam com eles. Tenham noção de que o discurso que têm de que não estão preparados para gerir a diferença, de que a família não vai aceitar, que não sei o quê... pode ser legítimo até porque é a verdade (se bem que há muitas verdades que não são legítimas...), mas não apaga o facto de ter 1 preconceito forte por trás...

Nós colocámos algumas restrições no nosso processo. Não foram fáceis essas restrições...
Não colocámos a da cor. Para nós era 1 disparate colocar essa restrição (não é disparate... é mais como dizem os ingleses: nonsense, sem sentido). A assistente social quando falámos da questão da cor e eu lhe disse que não seria capaz de colocar essa restrição disse-nos: mas vcs não podem tomar as vossas decisões a pensar no que os outros podem dizer, não podem estar preocupados de ser acusados de racismo ou coisa assim... e eu respondi-lhe: eu não estou preocupada com o que os outros vão pensar de mim. Eu preocupo-me sim com o que eu vou pensar de mim... Porque é com a minha decisão que eu vou ter que viver...

E por isso vos digo que não foram fáceis as nossas restrições... Com que direito disse que não a crianças apenas porque já tinham cresido um pouco? Com que direito?...
Faria igual hoje? Talvez não...

Mas vivo com a minha escolha todos os dias... e não arranjo nenhuma desculpa simpática para justificar o que fiz. As coisas têm que ser chamadas pelos nomes... por muito que custe e doe percebermos muitas vezes que não somos assim tão perfeitos...


Vejam, vejam...
http://missaocrianca.blogs.sapo.pt/

No próximo dia 15 de Abril vai ser discutido na Assemblia da República a criação de um dia nacional da adopção. O objectivo é que o dia seja um motivo para discussão e reflexão sobre o tema...

De entre todas as coisas necessárias para que o processo se torne mais célere e sobretudo para que não existam crianças "encalhadas" em instituições apenas porque os serviços da SS apresentam muitas ineficiências (não funcionamento da base de dados nacional, etc...) penso que também seria interessante fazer 1s acções de sensibilização junto dos juízes... Afinal, não são eles muitas vezes que apesar da demonstrada incapacidade das famílias biológicas decidem contra a adopção e a favor da manutenção do vínculo à família biológica, deixando as crianças anos a fio em instituições? Será que uns dias de trabalho voluntário numa instituição não lhes mudaria o mindset? Porque não?

Ainda no tema dos bebés e de como eles crescem na barriga das sras...

No próximo fds vamos ter a festinha de aniversário do T. que está quase a ter uma mana, a M.. E então aproveitámos a oportunidade para explicar que a barriga da A. estava grande porque a M. ainda estava lá dentro.

Dps de respondermos a mtas perguntas("posso ver?"; "não, não podes,...";"pq?"; "pq ainda está lá dentro e é mt pequenina";"se abrirmos a barriga ela cai para o chão?"; etc...) lá conseguimos explicar que eles não estiveram na barriga da mamã. Que estiveram na barriga de outra sra e dps foram para o Refúgio... nesta altura está 1 com um ar mt, mt sério... e o outro diz: "Eu estava a chorar e queria que vocês viessem e dps vocês foram lá buscar..." (frase que terminou num sorriso tímido e abraço ao pai...).

Como é que eles tão pequenos, sem saberem o que era ter pai e mãe conseguem verbalizar a tristeza deles de uma forma assim tão simples: eu estava triste e agora não??...

Os G´s vão começar agora 1 trabalho na escolinha sobre a história deles... Começa por levar umas fotografias deles em bebés ( que não temos...) e responder a umas perguntas sobre eles quando eram bebés (1ª palavra e coisas assim... que também não sabemos)...

Estavamos a procurar fotos deles no PC do tempo em que estiveram na instituição para eles levarem para a escola. Não temos fotos de bebés mas temos fotos de quando eram bem mais pequeninos...

Eles apercebem-se do que estamos a fazer e ficam com vontade de ver. 1 com 1 ar curioso e o outro com 1 ar sério... começamos a passar as mensagens habituais... que só voltamos à instituição para visitar os amigos que eles lá têm e apenas se eles quiserem. Que a nossa casa é aquela. Que a nossa família é aquela.

Entretanto surge 1 foto do Gu a espreitar por 1 janela. E pergunto eu: "Gu, o que estavas tu a espreitar?". Responde o Gui: "Estava a ver se o papá vinha..."

É claro que naquela foto ele não estava à espera de ninguém. Estava a espreitar qualquer coisa com curiosidade...

Mas como é que ele conseguiu, com apenas 4 anos, verbalizar algo tão intenso? Afinal é assim que ele sente, não? Que estava à espera...

Não posso deixar de sentir que lhe falhei... que devia ter ido mais cedo...

Quantas crianças não estão também à espera nas mesmas circunstâncias? Quantas?...